14.11.07

Vergonha!

Ontem à tarde fui resolver minhas pendências no centro da cidade, e me deparei com uma situação muito triste e vergonhosa. Entrei no Itaú para fazer um depósito quando na fila, uma mulher atrás de mim começa a se lamentar: "- Que merda. Estava saindo do banco aqui do lado e uma família veio me pedir comida. Eu não dou dinheiro, mas negar comida é foda. Muito triste de ver. Fico super mal. Muito mesmo". Ok. Até aí, eu também fico, sempre. Mas vamos fazer alguma coisa? Sugeri a ela que dividíssemos o valor de dois pratos de comida para eles. Ela reclamava novamente, mas só insistia em falar que "ficava mal".
Fiz meu depósito, e saí em direção contrária para achar a tal família. Avistei, cheguei, e perguntei: "Querem comer alguma coisa?". A resposta foi, lógico, positiva. Então fui caminhando com eles, até um restaurante perto. Aqueles que é por mistura, e pega o tanto que quiser do restante. Conversa vai, conversa vem... Seu Valdir e Dona Vanuza, ficam em uma pensão por lá perto e não podem ficar nas ruas porque o conselho tutelar por pegar o filhote deles. Precisam de dinheiro para ficar na pousada (R$30 diária) e comer. Entre um e outro, achei melhor dar comida. Não imagino e nem consigo imaginar o que é passar fome. É um mal deste mundo bandido. Mas voltando. Ao tentar entrar no "restaurante", que nem era de primeira linha muito menos de segunda, já fui abordada com um olhar me recriminando. Perguntaram se eu iria entrar "com eles" e eu sem piscar, "sim". Já não gostei, mas até aí, tenho que respeitar oas regras do estabelecimento.
Seu Valdir, Dona Vanuza e o filhote preferiram que eu enchesse uma marmita e eles comessem lá fora. Mas não permiti tal desleixo. Primeiro que na marmita, eles prensam, e não cabe muito. Segundo que justo naquela hora que encontrei com eles só tinha pouco mais de dez reais, e não daria para pagar dois pratos. Terceiro, que eu estava pagando e eles poderiam SIM entrar e comer que nem gente. Afinal, eles são gente! (me revolto). Entramos, e os olhares iam me seguindo. Ele pediu para que eu fizesse o prato, então eu mesma fiz. Muito arroz, feijão, dois frangos enormes, saladas e afins. Delícia. Fui levar, o prato chapado e mais um, para a divisão.
Vem a "garçonete" e quase tirando o prato deles, me olha e fala:
"- Moça, não pode dividir aqui. Não pode não".
Aí me subiu o sangue. Fui até o caixa, na qual estava o responsável do dia, pelo que parecia, e falei:
"- Olá, boa tarde. O senhor viu que entrei aqui com uma pequena família, não? Fiz um prato a eles, bem farto, e dei outro para que eles repartissem e comessem, mas a moçinha disse que não posso fazer isto, porque?".
Ele: "-Ah, não dá não. Depois eles ficam aqui na porta pedindo comida, e atrapalha. E se eu abrir excessão, vou ter que fazer para todo mundo também!".
Eu (já olhando o restaurante vazio, no horário das três e meia da tarde, ninguém almoça mais): "- Pois deixe te explicar uma coisa. Hoje, eu quis ajudar uma família, e amenizar este sofrimento deles. Não tenho muito, e só posso pagar um prato e uma jarra de suco para eles. Se eu pudesse, pagaria um prato para cada um. Mas hoje, não posso. Mas estou pagando aqui, como o senhor pode ver, um prato com duas misturas e uma jarra de suco. Então acho que não tem mal nenhum que eles dividam este prato farto, o senhor não acha?"
Ele balançava a cabeça negativamente.
Eu: "- Desculpe, mas o senhor já passou fome? Não deve imaginar o que é isso não? Então eu vou lá dividir o prato deles."
Ele: " -Não vou falar nada."

É um descaso tão grande e tão estúpido! Saí de lá com nó na garganta. Tanto pela alegria de ve-los felizes e agora de estomago cheio, como com a vontade de chorar por saber que ainda tem tanta gente imbecil neste mundo.
Eu até entendo que ele "não pode" senão todos vão querer também, mas porra, é um ser humano lá que está com estômago doendo de fome. Ele nunca sentiu isso, com certeza. Se tivesse sentido, um pouquinho, não negaria. Nem que as regras do estabelecimento, não permitissem. E fica a revolta.

10 comentários:

Drica Menezes disse...

primeiramente: obrigada pelas palavras d força! nunca pensei q ao fazer um blog iria encontrar pessoas tão especiais como vc! Segundo: q absurdo mesmo, primeiro a mulher do banco q só fala e qd vc propoe tomar uma atitude com ela esta nao faz nada, e depois com relacao ao dono do restaurante q alem d nao ajudar ainda fica tentando impedir alguem d fazer o bem! q gente mesquinha mesmo! prabens pela tua atitude, isto só comprova o qt vc é uma pessoa legal! bjao! :)

lolo disse...

Cara, e terrivel mesmo. Na minha quadra aqui em Brasília tem um girafas e os garços passam o dia "espantando" meninos de rua, e um horror! Parabens pela sua atitude, se cada um agisse assim talvez as coisas seriam diferentes. E ah, o meu blog ja ta na sua lista ai, muito obrigada. Bjo.

Heliarly F. Rios disse...

Tenho um MEME pra vc no meu blog...


Um abraço!

Mel ♪ ♪ disse...

É revoltante mesmo ver que num país onde tanta gente passa fome, alguém que decide ajudar é quase impedido por pessoas que hipocritamente, decidem, naquele instante, cumprir as regras do estabelecimento.

Não é nem preciso passar fome pra saber como é difícil fazer qualquer coisa com a barriga vazia.

Ainda bem que ainda existem pessoas que, mesmo tendo pouco, decidem ajudar.

beijcoas

Renata disse...

Parabéns pela sua atitude, pessoas assim como você que nos dão um pouco de esperança. É uma pena que tenhamos que conviver com tanta gente escrota no mundo.
Parabéns!
um beijo

Denise disse...

sabe o que mais me revolta? é a quantidade de comida que restaurantes desse tipo, ou mesmo redes de lanchonete jogam fora.
sabe?
exceção está aí pra ser usada, empatia também.
e enqto pudermos pagar um prato de comida a gente está bem né?

beijos linda.

Anna Carla Lourenço do Amaral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anna Carla Lourenço do Amaral disse...

Não deixe que a revolta amargure teu coraçãozinho iluminado.
Vc fez o que pode e o que é de cada um está guardado.
Beijocas.

Anna Carla Lourenço do Amaral disse...

Tem uma frase do poeta Kahlil Gibran que gosto muito:
"Voc~e doa pouco quando doa suas posses. Doar de si mesmo é que é doar realmente."
E foi isso querida, que você fez.

Aline Tolotti disse...

Obrigada por todos comentários carinhosos e atenciosos, como de costume.
Eu realmente não postei com intenção de divulgar minha atitude, mas como desabafo. O nó ficou na garganta, aranhando, durante longos e cansativos minutos.
Faz parte da vida, creio que ninguém pode ser igual a ninguém. Cada cabeça, sua sentença, não?
Beijos a todos!!!!