1.4.12

café amargo, cama desarrumada, alma armada, lados sombrios, um sorriso ali, uma tristeza aqui, algo inútil, bons frutos. não era nada, era alguma coisa. nada mudava, tudo girava. era uma conspiração contra si mesma. parecia que nada fazia sentido, ao mesmo momento em que tudo dava-lhe luz e reluzia em torno de si. como a saia rodada, a criança que rodava, o copo que girava, os sapatos que saltavam do chão. era cinza, era cor, era um pouco de amor. tinha vazio, tinha dor, tinha repudias de amor. era desconexo, amor de ângulo convexo, pontiagudo, reto, direto. não havia um sinal, não havia evidências... era aquilo mesmo. sem ponto, vírgula e parágrafo. tinha que lidar com isso. enfrentar o desconhecido mesmo sabendo o final. era pois mais um longo filme que passava diante dos olhos. era o inferno em busca de felicidade. era a felicidade com medo do inferno que iria se tornar. sabia de tudo isso e tinha certeza que faria mal. e qual o jeito? era teimosa como uma mula.

17.12.11

coisa de vivência

   Às vezes tenho muita vontade de falar muitas coisas pra muita gente. Hoje acho isso fantástico porque antigamente era constante e eu não deixaria esse "time" passar, pelo contrário (!) ia à luta e fazia jus aos meus valores. Colocava a boca no trombone, como se diz por aí. Confesso que na maioria das vezes eu ficava decepcionada com as conversas porque elas não evoluíam. A medida que eu pensava mais e tentava explicar minhas ideias (inovadoras, surreais ou bobas, que seja) as pessoas ficavam com receio da minha postura - sempre segura - e assim mantinham-se ora em silêncio, ora discordando - mesmo que sem um pingo de seriedade com a conversa toda. E ainda tinha o pudor. Ah! bendito pudor! Pensava: "a verdade dói e é difícil de aceitá-la", assim, poupava ambos os lados: omitia as arestas mais ardilosas para não magoar o receptor e tentava confessar os pensamentos mesclando verdade com preocupação e carinho - que na época era sinônimo de omissão da verdade total.  
     Aí de repente tudo passa tão, mas tão rápido que você nem percebe a brusca mudança. Do casulo para a vida, literalmente. Vê-se livre, solta, liberta, mais mulher e mais crítica, muito mais que antes! O que era tão difícil manter (a espírito de criticidade que às vezes ficava por trás do amor besta da leonina) soltou-se de tal maneira que mal consegui me reconhecer no espelho. Parecia que até a pele havia mudado. O cabelo, algumas marcas de expressão que começavam a despontar, as mãos um pouco cansadas do trabalho, a gratidão iluminando o rosto, o corpo mudando, engordando... de dentro para fora, tudo mudando. Era um grande reflexo daquela alma que se via, enfim, livre. No espelho, "se percebendo", ficava fácil até de visualizar aqueles pássaros todos saindo de mim. Foi tudo muito natural e por isso, glorioso. 




      É difícil percorrer o caminho mesmo. Sabemos onde queremos chegar, enxergamos claramente de onde saímos, mas o caminho.... ah, o caminho das pedras é longo, quase infinito para quem o vê do começo da estrada. Metaforicamente demora o tempo que queremos porque na verdade é tudo uma questão de percepção, como eu já pontuei. Agora de verdade mesmo? Parece eterno, mas sabendo viver bem - que é o ponto nevrálgico da tese - nesse processo, a transição ocorre tão naturalmente que não se dará tempo de pensar nela. É como um nascimento, a saída da borboleta do casulo, é uma tal liberdade que não se sabe definir em palavras... só sabe-se que aconteceu.
   E posso afirmar com toda "panca" que a maturidade (essa que a gente conquista mais e mais, todo dia) vai aflorando a calmaria de viver bem e conseguir estar alheio às falsidades e todas as pequenices desse mundão, aquietando a alma e alertando o coração para as coisas realmente importantes. Hoje basta-me viver bem e feliz, aceitando que vem é a colheita do que eu vivi, caminhando avante e confiante para o futuro e agradecendo - sempre - o presente. Tudo então se torna mais leve, mais claro e a opinião, cada vez mais sólida. É tal segurança do "perceber-se".

24.11.11

Hoje

Hoje descobri que gostaria muito de ter manias, mas não as tenho porque sou organizada demais para isso.
Descobri que gostaria de colecionar coisinhas, mas não consigo porque sou esquecida também.
Descobri que gosto muito de geleia de uva, mais do que pensava gostar um dia.
Percebi que por mais que eu tente não querer, a liberdade impulsiona meus pensamentos e me corrói  antes mesmo de pensar em não querê-la.
Percebi que não preciso ter tanta pressa não, tudo se dará no tempo certo, da maneira enlouquecida de sempre e que, no final das contas, o que vale é o meu momento: o presente.

Hoje foi um dia calmo, azul, ensolarado e esquisito.
Ter me percebido um pouco mais já é demais para um hoje só.
Deixemos o resto para sexta-feira.

12.9.11



Onde, possivelmente, deveria existir algo de azul celestial...
Onde o amor e a paz reinariam como um verão alaranjado...
Onde os pássaros cantassem flores e as corujas dormissem em segredo...
Onde cada qual teria um par de sapato velho para seus pés cansados...
Onde todos pudessem, enfim, sorrir sem maiores aflições...

Se e possível sonhar, sonhemos, por favor.

8.8.11


compilação 
(latim compilatio, -onis
s. f.
1. Acto ou efeito de compilar.
2. Obra que resulta da reunião de escritos diversos sobre o mesmo assunto. = COLECTÂNEA, RECOMPILAÇÃO, RECOPILAÇÃO
3. Obra que resulta da reunião de diversos textos ou trabalhos com várias origens (ex.: compilação de fados, compilação de poemas). = COLECTÂNEA, RECOMPILAÇÃO, RECOPILAÇÃO




É, sou uma compilação catártica em pessoa. 

18.7.11


A madrugada é um sonho, é silêncio e festa.
Envolve-se com o vinho, dois cigarros, alguns tragos e um Jazz para ambientar a tal da escrita.
Os elementos compactuam com os pensamentos e logo volto a ser eu mesma...
Pensa-se em objetos, doces, sonhos, lembranças, bebidas e um pouco de amor,
mas o fato é que as coisas acontecem mesmo sem ter que acontecer.
De fato, estou envolvida.

13.7.11

tudo de verdade


minto e aceito,
mimo e rejeito,
sublimo toda angústia da antecipação.

não nego, nem testo,
só atesto as minhas culpas.
das tuas não digo, nem arrisco,
mas sei que não faria nada diferente.

esses dias pensei sobre isso,
lembrei de alegrias, de muito riso.

eu sempre fui assim, eu sei!
sempre insisti em ser feliz.

Até diria que você tem razão...
se não estivesse mentindo.

8.7.11

Último suspiro

Cheguei ao ponto final, não há mais vírgulas entre nós e toda história se encaixa em um parênteses de tamanho bem comum. Nada além, nada aquém e nem mais um minuto. Por favor, te peço, saia e feche a porta.

4.7.11

Camila

Tinha sua casa colorida, duas gatas, umas garrafas na estante, três almofadas para afagar o cansaço, alguns maços de cigarro espalhados pela casa e um notebook para começar. Estava feita sua escolha e iria até o fim, sim. Desde sempre escrevia, mentalmente, suas doses diárias de alegrias e melancolias, mas vez ou outra tudo se perdia em lapsos relâmpagos de (in)consciência. Era algo cadenciado, ora pensado e premeditado, ora por sua infeliz incapacidade de guardar detalhes preciosos. Pois lá estava com seu bloco de papel, caneta azul, notebook aberto no bloco de notas e um cigarro já aceso por uns bons três minutos. Ao silêncio do pensamento e ao som de Cole Porter. Rascunhava alguma ideia: amor. Debatia com o inconsciente: Desista, nesse assunto você sabe que é incapaz. Pensava: Falta-me um drink, um afago para carência desenfreada da noite. Vá! Não resista e encha seu copo.
Já passava da uma da manhã e era só ela, Cole Porter e seus acasos amorosos que habitavam o apartamento recém alugado. Fumava e tentava se atear a maior referência amorosa. Pensava em começar pelo caso mais amável e mais sofrido da vida para ver se assim deslancharia ao escrever dos demais. Pensava com grande esforço, desse de quem sente saudade. Forçava-se a lembrar o que foi amar João.
Até então, era o maior amor de toda sua vida de trinta e um anos de existência. João era mais velho e costumava superá-la nas numerações. Começavam a disputar na idade: ele tinha trinta e cinco anos, quatro a mais que Camila. Ele tinha sete tatuagens, contando com o próprio nome de Camila, impulso amoroso na viagem à São Tomé das Letras. Camila, só tinha cinco e uma também era o nome do amado. João já havia namorado sério sete namoradas e tentado casamento de 3 anos com uma delas. Camila só havia conseguido namorar três e sua tentativa de casamento não passou de sete meses. João tinha um carro e uma moto. Camila nem um, nem outro. João tinha duas faculdades e um mestrado. Camila uma e o mestrado que havia acabado de iniciar. Ela nunca saía na frente, sorte com os números nunca foi seu forte... João tinha bons números, mas não tinha mais sorte em nada. [Ainda amava Camila, enlouquecidamente. Pensava em como era infeliz sem e como foi feliz ao seu lado. Não se conformava com sua vida e só conseguia beber para tentar amenizar a solidão noturna.]
Ainda sentada em frente ao notebook, lembrou-se que conseguiu rememorar todas as diferenças numéricas entre eles e assim se deu conta que João não havia sido seu grande amor. Já estava no segundo copo de Campari e no quarto cigarro e só havia escrito uma frase: João foi uma paixão de verão. Foi assim, não mais que de repente que seu coração se acalmou e se transpôs completamente a outra inquietação. Tragou, bateu as cinzas, ajeitou a manta envolvendo os pés gelados pelo inverno paulista e indagou: e agora? qual terá sido meu grande amor?