Paulista, balzaquiana, bem sucedida, solteira-bem-resolvida e alto astral. Laura fazia terapia à dez anos e morria de medo que recebesse alta. As sessões eram como muletas para que ela estivesse sempre firme e com seu status de mulher maravilha.
Tinha uma apartamento decorado, livros interessantes, homens maravilhosos que ligavam diariamente atrás de um encontro. Era formada em jornalismo e tinha uma carreira sólida e invejável em uma grande empresa na Paulista. Tinha o carro do ano, amigos fiéis e uma família presente e estruturada. Laura tinha tudo o que queria, havia conquistado tudo o que planejou para ter aos trinta, mas tinha algo... havia algo que ela invejava e nunca poderia ter.
Havia o Fernando. O cara, o partidão, o bonitão, solteiro e o que ela queria. Já tiveram alguns encontros casuais, já ficaram trêbados e já haviam transado algumas vezes. Ela, fingia não quere-lô e ele, louco por ela, fingia não enxergar que ela também era louca por ele.
Faziam três malditos anos que eles estavam neste vai-e-vem, trocando olhares no hall, gentilezas e conversa fiada nos intervalos para o café. Ela não queria entregar o jogo, e ele queria que ela mostrasse interesse. Laura nunca se gabou e nunca deu a impressão que se achasse a última bolacha do pacote, mas Fernando era linguarudo e adorava ter atenção toda voltada para si. Ele tinha um caso antigo, um caso de amizade-amor-traição-ódio-e-sexo. Ele tinha a Rita, e a Rita era o problema de Laura. Bastavam cinco minutos do cigarro e do café, bastava que Laura estivesse por perto. Laura não aguentava mais e já havia chegado ao ponto de levar Rita para a terapeuta. Rita era o motivo de todo seu desconforto, de todas especulações e de toda imaginação que Laura conseguia ter.
Era uma quarta, daquelas noites abafadas, onde todos amigos tinham compromisso e só sua televisão e seu pote de Haagen-Dazs lhe faziam companhia.
Um comentário:
Adorei a criatividade do post, e o título....
Voce escreve muito bem .....
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